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NÃO SOU BUDA



Pessoas. Temos pessoas de todos os tipos e cores. As mais difíceis de lidar, são aquelas que não concordam em nada com a gente e que só falam o que não queremos ouvir. Depois de algum tempo procurando meu equilíbrio interior, senti que já estava em paz e preparado para o mundo. Tinha uma felicidade interna, estava contente com tudo, sentia o vento no rosto, o sol na pele, o som das águas, uma maravilha, estava em contato com o universo. Peguei um ônibus e voltei para a cidade e para as pessoas. Fiquei puto. Fiquei puto no ônibus, fiquei puto ao andar na rua, fiquei puto a cada vez que via uma pessoa fazendo algo errado, algo que eu achava errado, seja uma piada de duplo sentido, uma frase preconceituosa, a falta de respeito com o outro. Queria xingar todo mundo e mostrar o que era certo. Falar da importância da paz interior e de se conhecer melhor. Não fiz nada disso. Fiquei puto só dentro de mim. E frustado, pois percebi que não conseguia colocar em prática nada da felicidade e da conexão com o universo no mundo real. Será que eu tinha que me mudar para um lugar longe, em meio à natureza, só com pessoas que concordavam comigo? Fiquei puto. Não queria isso, queria sim me tornar um buda, mas um buda no meio da 25 de março, não no topo da montanha do Tibete. Comecei a olhar para este desconforto, para as pessoas, para a minha raiva, meus julgamentos, minha intolerância, minha imaturidade, minha falta de paciência, minha falta de empatia, minha falta de compaixão. E isso durou meses. E nada. Ok, fui clareando algumas coisas, mas algumas pessoas ainda me irritavam, me tiravam do eixo, eu ficava perdido, desconectado de mim. Um dia, falei com uma grande mestra, a Paula: “Por mais que eu me desenvolva, ainda não aprendi a lidar com as pessoas”. E Paula respondeu: “Não aprendemos a lidar com as pessoas, aprendemos a lidar com nós mesmos”. CATAPLOTF! Me senti um bosta de imediato. Mas, conforme refletia sobre o que ela disse e sobre mim mesmo, cada vez aquelas palavras faziam mais sentido. Caí num riso sem fim, num riso de mim, num riso de “não é importante nada para o que eu dava importância”,num riso de “relaxa e vai curtir a vida”. Ainda há pessoas e situações que me irritam e me tiram do eixo. Mas buda para mim não é alguém intocável, que nunca fica triste ou nervoso. Se for, não quero ser buda. Estou bem afim de sentir meu sangue correndo pelo meu corpo e ficar com raiva ou chorar quando necessário. Buda é aquele que demora mais para sair do equilíbrio e, quando sai, volta com mais facilidade. Estou caminhando, andando na corda bamba que é o equilíbrio interno. Bruno Vicente

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