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Éramos como pão e manteiga, mas, de repente, sem prévio aviso, sem preparação, te olhei e descobri que estávamos mais para água e óleo… Me pergunto repetidamente, por que as relações amorosas não são o como o vinho, tornando-se melhores com o passar dos anos? Ou, pelo menos, por que com a gente não foi assim? Éramos especiais, lembra-se? Por que com o tempo, ao invés de nos amarmos mais, cresceu esse abismo diante dos nossos olhos, deu-se um hiato, quase uma paralisia. Ontem estávamos completamente enamorados, hoje distanciados, afastados, vivendo cada um o seu mundo de possibilidades, possibilidades estas que cada vez menos contemplam o nós, o eu e o você impera a cada novo amanhecer e se reforça, pelo ele e ela, de quando nos referimos um ao outro numa banal conversa. Nos tornamos diferentes, ou melhor, indiferentes, ilustres desconhecidos habitando o mesmo ambiente, dividindo contas e compromissos familiares, cumprindo com destreza aceitável as imposições que a moral, os bons costumes e a racionalidade impõem aos que resolvem constituir matrimônio… Muitos dirão “imagina, vivemos novos tempos, outros ventos sopram, hoje podemos sim e fazemos tudo aquilo que escolhemos fazer, não devemos satisfação a ninguém”... Concordo, novos tempos, novos ares, novos ventos que ainda sopram, regras tácitas encobertas pela fina nevoa da sugestão, a imposição do certo...E tudo bem, a indagação aqui é por que nós não conseguimos exercer as juras de amor que fizemos, amando de verdade, sem esforço, sem fabricação de amor, com amor genuíno? A indagação é, quando foi que deixou de ser bom e por que deixou? E onde eu estava, onde nós estávamos que não nos demos conta???? Nos desconhecemos mais a cada dia, parece que desaprendemos, chego a me pegar pensando no próximo movimento a ser feito, o que fazer, como fazer, o que dizer, onde tocar, o que perguntar, elogiar, brigar, gritar, chorar, correr, fugir??? Não sei, não sei como agir, nem se devo agir, o que sei é que todas as dúvidas que batem aqui, parecem bater ai também. Percebo em você meu reflexo, percebo que sabes tão pouco como eu o que fazer…Onde foram parar nossas certeza? Nossa naturalidade e fluidez abriu espaço para uma hostilidade, muitas vezes involuntária, mas que vem pouco a pouco tomando espaço, ganhando terreno, definindo o jogo... Nos distanciamos, isso é inegável, não soubemos administrar bem nosso amor, investimos equivocadamente, apostamos mal, não percebemos os riscos… Aconteceu conosco também, aconteceu o que acontece a todos, escuto isso o tempo todo, “acalme-se é natural. Natural??? Quer dizer que é natural, comum, normal que quanto mais tempo dividimos a vida, mais somamos distâncias??? Não seria o contrário? A ordem natural das coisas não seria ficarmos melhores com o passar dos anos, vez que nos conhecemos mais, maturamos, podemos não saber exatamente tudo que queremos para o resto da vida, mas nos conhecemos o suficiente para saber o que não queremos e, quanto ao outro, conhecemos suas manias, seus charmes, seus anseios, facilidades e dificuldades, o mais lógico não seria ampliar a conexão e a integral e não caminharmos para desintegração total? Por que o relacionamento, o casamento, não é como a relação de amizade, quanto mais conhecemos um amigo, mais o entendemos, mais sabemos sobre ele, mais a vontade ficamos, mais fácil de lidar, mais prazerosa fica a conversa? Por que não nos entendemos mais pelo olhar? Por que quanto mais tempo ficamos juntos, mais difícil se torna, menos sei lidar contigo, menos sei das tuas buscas e escolha, menos lembro do que gostas e quanto menos fico contigo, menos quero ficar? E quando fica, a única certeza que tenho é que haverá um daqui a pouco sem você, porque se não houver, fabrico um, mas não posso nem cogitar a possibilidade do mundo acabar neste instante. Em contraponto, alimentando meu inferno particular, ainda consigo me lembrar láaaaa do passado, que mais cena de um velho filme qualquer, com outros personagens, outra vida, que um dia sim, desejei que o mundo acabasse no exato momento que estivesse envolta pelos seus braços. Naquela época, era feliz todo o tempo que passava contigo, não existia espaço para mais, estar contigo era o ápice, a completude, a soma ideal, a junção perfeita… Era eu, você e mundo como expectador do nosso amar... Hoje vivo às voltas com interrogações, porquês, serás, são milhões delas, habitam meu consciente e imaginário, meu corpo e alma, experimento momentos do mais profundo tormento, meus dias, horas, minutos e segundos são preenchidos por infinitas perguntas sem resposta, estou imobilizada, enjaulada por grades imaginárias no labirinto dos meus questionamentos... Paula Maria