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REALIDADE DISTORCIDA



Sempre tive muita pressa, pressa demais

Acabei correndo demais, fazendo tudo rápido e cedo demais

Fiz coisas demais...

Na ânsia de fazer esse tal tudo e aproveitar cada segundo, deixei de fazer muito, conhecer muito, experimentar e experienciar muito

No ledo engano de fazer muito, muitas vez fiz pouco, fiz nada...

Acabei cansando rápido demais. Esgotei antes do tempo, avancei os sinais, não segui o fluxo, não deixei a vida me levar, tentei, na verdade acreditei, por algum tempo, tempo demais, que controlava a vida, que tinha tudo aqui, na palma da minha mão, tudo sob as rédeas do meu querer. Corri, busquei, fabriquei metas e alvos e consequentemente chegadas e conquistas.

Construí sob o véu do sucesso um pódio de areia movediça. Engano! Esta é uma palavra intrigante para mim, pois ele não me dá prévio aviso. Só me dou conta dele, quando ele já está. Não há um antecipar, não tem "quase engano" ou "meio engano", ou engana-se ou não, e eu me enganei bastante! Acreditei, sem querer, sem pensar, que era possível controlar o tempo. Fui ingênua demais, boba e presunçosa demais. Não notei a tempo, que o tempo não existe, que o que existe é o relógio, que marca a ilusão do tempo. O tempo não, não precisa existir. A ele foi dado o privilégio de ser uma abstração, uma ficção, uma invenção; e o poder de reger e aprisionar os tolos que acreditam poder segurar nuvens com as mãos. Mais uma vez, fui ludibriada pelo tic tac constante da minha mente. Lutei parvamente uma luta inglória e solitária, sem a menor chance de vencer, pois meu adversário é volátil, livre, solto e existe exatamente pelo fato de não ser. Se faz presente pela sutil capacidade de não estar lá. Não ofereço a ele nenhum risco, sou completamente inofensiva, ele não tem consciência de mim. Em contrapartida, a mim ele é cada dia mais letal, pois tenho consciência dele. Ah! A consciência, um sentimento, um conhecimento que muda tudo. A percepção que torna a vida tão mágica e tão trágica, a tesoura de ouro que corta fita de inauguração e a lápide fria que lacra a existência, pontas extremas de um mesmo cordão, luz e sombra, chegada e partida. A consciência que mostra todas as possibilidades. Está no "pode ser", no "que é" e no "que nunca será". É a miscelânea do tudo e nada unida ao ser e ao não ser, é a dúvida e certeza ocupando o mesmo espaço. É o que torna a vida um tabuleiro de xadrez rebuscado, onde as peças se movem cada uma a seu ritmo e, de uma maneira inexplicável, encontram no caos a sincronia perfeita. Consciência, a virtude que expressa nossa maior e inevitável fragilidade, o quadro negro que esboça o início, meio e o fim, escancarando toda nossa impotência mental. Na corrida desmedida por adiar o fim, na tentativa irreal de mantê-lo longe, de aprisionar o tempo e conseguir usá-lo ao meu bel prazer, deixei de olhar para o que realmente importava. Paradoxalmente, gastei à toa o precioso Sr. Tempo. Acabei futilmente colecionando quantidades.

Aprendi a duras penas que não são os muitos que importam, mas sim, os bons TEMPOS! Paula Maria

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