NÃO SEI BEM AO CERTO
O futuro é incerto. Dizem ainda que ele a Deus pertence. Algumas propagandas motivacionais dizem que, na verdade, ele está em suas mãos. Eu não sei bem com quem está o meu. Quer dizer, se me entendo como filho de Deus ou que Deus está em mim, minhas opções se reduzem a: o futuro a mim pertence e ele está em minhas mãos, ou seja, é comigo mesmo. Mas o quanto deixo o meu futuro nas mãos dos outros? Sou eu quem decido o meu futuro, mas com base em que? No que me vendem, no que me dizem, no exemplo que vejo dos outros, no meu passado? Caso sim, meu futuro é limitado ao que vejo, ao que conheço? E o desconhecido? E o que eu não conheço, o que não me disseram, o que não experimentaram ainda? Qual a possibilidade de eu topar me atirar no escuro? E como se decide com base em nada, em nenhum exemplo de sucesso? Dizem para eu seguir o meu coração. Mas e se o vibrar do meu coração é filtrado pelo querer da minha mente? Quer dizer, e se o vibrar do meu coração é controlado pela minha mente? Estou falando de ser possível decidir e agir com base em nada. Será que é isso que chamam de fé? Fé, para Jesus, era como andar sobre as águas. Pedro, homem de pouca fé, afundou. Um mestre me traduziu: fé é andar sobre as águas, isto é, andar sobre aquilo que não tem base, que não te dá sustentação, que não te dá certezas. Fé é a falta de base, a falta de crenças, não precisa acreditar, você apenas faz, sem base no passado ou se preparar para o futuro. Entendi. Mas eu vou me atirar no escuro para quê? Para quê vou inventar de escolher pelo desconhecido? Eu nem sei o que tem lá! Será que o que tem lá é melhor do que as coisas que conheço, do que me vendem e ainda não tenho? Mas quem tem, não parece estar feliz, em paz e satisfeito. E quem não tem, também não está na maior felicidade. Acho que é por isso que desejo o desconhecido, porque, talvez lá, eu me sinta bem, talvez lá, eu encontre o que falta em mim, o que não vendem, o que não sabem que existe, o que não gostam de falar sobre, o que irrita as pessoas quando você diz que quer encontrar. A vida é assim e pronto, me dizem. Você que é avoado e fica inventando coisas, reforçam. Mas eu só quero ser feliz e curtir a vida, vivendo o presente com tranquilidade, sem problemas, sem estresse e sem sofrimento, retruco. Isso não existe, me falam. Isso é só teoria, me explicam. Mas você está feliz e satisfeito com a sua vida? pergunto. Eles não me respondem. Eu espero conseguir contar o que há no desconhecido. Por outro lado, dependendo do que for, prefiro não falar nada, não vão entender, prefiro ser o louco, avoado, feliz por não saber de nada, satisfeito por viver na teoria, não sofrer, não me estressar, não ter problemas em dormir, não ter de beber para conseguir dançar, não ter de me drogar para sentir prazer, não brigar com os outros pelas nossas diferenças. O que resta saber é qual realidade é a real, a desconhecida ou a que vivemos? Será que vivemos uma realidade fabricada? Qual a realidade que existe se não nos apegarmos ao passado e não esperarmos nada do futuro? Como é só ter o momento presente para viver? Espero não ser um homem de pouca fé. Bruno Vicente