VOCÊ SABE LIDAR COM O DIFERENTE?
Estava assistindo TV um dia desses e caio num programa que pergunta “E você, sabe lidar com o diferente?”, passando por imagens de transexuais, homoafetivos, deficientes físicos, negros... Pensei comigo: isso é um grande aprendizado. Não é fácil lidar com o diferente. Mas, para mim, o diferente não é o negro, a mulher, o gordo, o homoafetivo, o pobre, a pessoas com deficiência mental ou física. O diferente para mim não se refletia nas imagens que estavam passando. O diferente para mim é aquele que pensa diferente de mim, é mais uma questão de como a pessoa é por dentro do que por fora. Meu aprendizado, minha dificuldade, meu desequilíbrio está em lidar com o machismo, o racismo, a misoginia, o preconceito, a hipocrisia, a falsidade, a ignorância, a falta de respeito, a falta de educação, a falta de paciência, a agressividade, a intolerância, a mesquinharia, a exploração, a mentira, a disputa, a falta de conexão. E eu acho que entendo o que sente o machista ao assistir o empoderamento da mulher, o racista ao perceber a vitória do negro, a família tradicional ao assistir um casal homoafetivo formando uma família, com filhos e sendo felizes. Deve ser tenso, deve ser tão forte quanto o que eu sinto ao ver o machismo acontecer, ao ter consciência do nível de preconceito, intolerância e ódio que existe ao meu redor. A nossa diferença está em como eu e você nos relacionamos com o que é diferente. Eu posso não concordar com o que você acha, mas eu não quero que você morra, eu não desejo o seu mal, eu não vou despejar as minhas frustrações em você, eu não te odeio, eu não vou te agredir verbalmente ou fisicamente, eu não desejo que você mude para outro país, eu não desejo que você se cale… Se eu sou agressivo com quem é agressivo, se sou intolerante com que é intolerante, o que me faz diferente dele? Eu quero é que você me permita falar, eu quero respeito, o direito de expor minha opinião e de ser o que quero ser, sem medo de ser agredido ou insultado. Você não precisa concordar comigo, não precisa concordar com o que eu sou, mas não me impeça de sê-lo. Por outro lado, o que me incomoda naquele que pensa diferente de mim, naquele que é diferente de mim? Será que é o simples discordar ou será perceber que, na verdade, sou mais parecido com ele do que imagino? Será que não sou machista mesmo? Nem preconceituoso ou hipócrita ou mesquinho? Será que o que me desequilibra no “diferente” não é eu perceber o quanto sou igual a ele? Não é ele me mostrar que aquilo que abomino também existe em mim, mas ele tem coragem de expor e eu não? Aí o buraco é mais embaixo. Olhar para si mesmo é difícil, entender a si mesmo é complexo. Às vezes é mais doloroso e traz mais ódio e insatisfação do que olhar para o outro. Mas esse é o caminho do convívio social… É olhando para o outro, que aprendo cada vez mais a olhar para mim mesmo... Bruno Vicente