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TÃO PERTO E TÃO LONGE



Sigo em seu encalço, há anos busco conhecê-la... Uma vida de tentativa e erro... Às vezes, tenho a sensação de que estou quase lá, em outras tenho a plena certeza de que consegui. No instante seguinte, me dou conta que não consegui nada, ao contrário, parece que o alvo parece ficar ainda mais longe... A sensação que tenho é que quanto mais corro em sua direção, mais me distancio... Minha corrida parece inversamente proporcional... Estou longe, bem longe, anos luz de alcançá-la... Entender, decifrar, compreendê-la... seria possível? Parece tão distante de mim, inatingível! Sigo suas pegadas, às vezes incansável, noutras esgotada, entregue... Nunca sei ao certo se estou indo ou voltando, saindo ou chegando, entrando ou saindo, pegando ou largando, quando se trata dela, o referencial é enganoso, na verdade, não há referencial, não há parâmetro ou paradigma de comparação... Um ser enigmático, complexo, cheio de meandros e labirintos, que desembocam em portas trancadas e janelas escancaradas, o hoje mistura-se simbioticamente ao amanhã e ao ontem, fundindo-se na eternidade do segundo que já expirou, mas que ainda está aqui... Sigo neste jogo de gato e rato, não é possível parar. Procuro-a em caixas fechadas, escondidas em gavetas e baús. Posso sentir seu perfume e isso me faz crer que não perdi seu rastro... De repente, a encontro, avisto ela ao longe, bailando despretensiosamente como a brisa, rodopiando com a sutileza do mar calmo e com a força das ondas que esculpem as rochas. Lá está ela, exposta, despudorada, mostra-se, exibe-se a todos, tão simples e acessível, é uma figura ridiculamente comum, que de tão ordinária torna-se inatingível, mantém-se à distância e à proximidade do tocar, condensado num piscar de olhos, perdido no tempo de um suspiro, ao alcance do esquecimento reservado aos importantes. Corro, corro, enfim chego... ela já se foi, agarro o sussurro que o tempo dissipou e continuo... Paula Maria

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