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ANGÚSTIA



Me falta sono, me sobra apreensão.

Acho que sinto medo, mas não sei bem ao certo de que.

É mais fácil quando o medo vem anunciado, sabe?

Esse receio velado, o medo do nada, é pior, muito pior, porque não cabe defesa.

Defender-me de que? Nada está efetivamente acontecendo ou deixando de acontecer.

É uma tensão relaxada.

Acho que é o medo do que nunca chega. Acho mais, penso que tenho medo que esse “nunca” chegue um dia e eu não precise mais buscar. Isso me assusta. Ou tenho medo de nunca chegar mesmo.

A espera eterna me coloca bem de frente com as minhas incompetências, minha falta de genialidade e diferencial, minha irrestrita limitação de não conseguir executar o apetecente.

Mas o que é fazer o apetecente? Apetecente para mim? Para o outro? Para ambos?

De um extremo: medo, receio, insegurança, eminência de incapacidade.

De outro: confiança, crença, animação e certeza.

Tudo caminha junto dentro de mim, danço de uma lado para o outro, ou melhor, sou atirada de uma margem a outra. Ambas me oprimem. O medo deixa tudo nebuloso, difícil de enxergar. A animação parece ser tolice. Mas de que vale a vida sem uma bela tolice para acreditar e criar confiança?

Confiança esta produto da coragem que nasce do medo e vem seguida da sorte que carrega consigo a possibilidade de tudo aliviar. Pois, se existe sorte, nem tudo está em mim, nem tudo sou eu, nem tudo está na minha governança e, se não está tudo sob o meu julgo, posso por alguns segundos não responsabilizar-me.

Às vezes, ser irresponsável é tão bom! Tão libertador, tão acalentador!

Me deixa leve e me remete a uma sensação infantil agradável de apenas estar, existir e nada ter que decidir.

Perco um tanto de liberdade? Perco! Pois ser livre é ter o decidir consigo, na palma da sua mão. Mas é daí? Penso que, às vezes, não decidir nada é a maior liberdade já idealizada. No meu caso, almejada, desejada e lamentavelmente não alcançada.

Acho que é essa utopia doida que eu quero agora. Ser tão livre, tão livre, a ponto de abrir mão da própria liberdade. Queria conseguir decidir não decidir mais nada e simplesmente seguir. Mas sou prisioneira demais da minha liberdade conseguida a duras penas, e não consigo abrir mão e me deixar vagar, cirandar e levitar pelo acaso da existência.

Paula Maria


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