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Meu Prato, Meu Espelho


Há muito tempo eu flerto com o tema alimentação, meus prazeres, compulsões e distúrbios.


Mas só agora, no último ano, que esse olhar se intensificou e eu me toquei de vez que comer vai muito além de alimentar o corpo e nutrir a alma, é a cultura de um povo manifestada em sabores e sabores, é experiência experimentada a cada garfada, é autoconhecimento...


Sempre soube que se a gente quisesse saber um tiquinho mais da gente mesmo, era necessário olhar pra dentro, voltar os olhos pro entorno, pro passado, pra origem, pra ancestralidade, ou seja, era preciso observar o seu mundo, onde está, quem é, mas principalmente de onde e de quem veio.


2020 trouxe com ele uma lente de aumento e tornou evidente o óbvio. Eu sabia que autoconhecimento é ter consciência de quem se é, olhar pra dentro e saber-se minimamente, conhecer suas vontades, desejos, capacidades, limites. Saber um pouco o que quer, o que não quer, por que quer, como quer, esmiuçar-se mais e mais, desvendando o que você quer de fato quando quer o quer e, a partir daí, descobrir porque se comporta assim ou assado, porque age e reage desse ou daquele jeito, porque chora quando a expectativa era rir, e vice-versa.


Claro, olhar pra dentro é caminho necessário para enxergar-se, mas tem mais, o que eu não sabia, não tinha me tocado, é que autoconhecimento é saber-se e colocar-se pro mundo, mas faz parte desse processo olhar pro mundo e escolher o que dele vai colocar pra dentro de você. Autoconhecimento é a junção de tudo que você tem dentro, somado a tudo que você decide colocar pra dentro... Tudo que a gente escolhe colocar pra dentro do nosso corpo impacta, contribui e tem papel fundamental para formar quem somos.


Por que escolho aquilo? Por que não outra coisa?

Por que agora e não depois, ou antes?

Autoconhecimento é perguntar-se incessantemente!!! Mais que isso, autoconhecimento é experienciar-se incessantemente.

E foi nessa brincadeira de pergunta e experiência, nesse processo de olhar pra dentro e jogar pra fora, que eu me toquei que o inverso também conta, e muito. Olhar pra fora e jogar pra dentro é preciso, mais que isso, é processo orgânico obrigatório da máquina humana, e o símbolo mais genuíno desse processo é a alimentação.


Afinal, é comida que precisamos jogar pra dentro todo dia, ao menos 3 vezes ao dia, pra sobreviver de maneira saudável. Foi nesse processo de escolha e consciência que eu comecei a prestar atenção e a perguntar-me, por que estou colocando isso pra dentro? Por que batata e não cará? Por quê? O que tem nessa batata? Ela me alimenta de quê? Mais que isso, o que eu tô indo buscar, além de matar a fome física, quando escolho esses itens pro almoço?


Foi nesse prestar atenção que eu me toquei que o meu prato sozinho contava mais da minha história - de quem eu sou, de onde eu vim, como fui criada, o que eu quero e por que quero - do que eu mesma...


Foi olhando pro meu prato, sacando as minhas escolhas alimentares intimamente, que eu me conheci mais intimamente, me entendi, compreendi e aceitei um montão de coisas que eu sou, e mais um bocado de coisas que eu não sou, e outras tantas que ainda quero ser...


Paula Maria


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