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É PROIBIDO SONHAR?



Às vezes tenho a impressão, ou melhor, a sensação de que o problema é sonhar, desejar, querer, ter uma vontade louca que queima meu corpo e me motiva a continuar tentando, e tentando, cada vez com mais paixão. Eu sei, essa sensação é maravilhosa, motivadora, me chacoalha pra vida e me dá a certeza que há mais a fazer, de que posso mais. Afinal, deixa claro que sempre há para onde expandir.

Mas aí que está, neste exato local onde mora minhas maiores delícias, onde reside aquela vozinha que me cutuca fundo e grita: “Não paraaaaa, continuaaaa!”. É neste mesmo endereço que mora também a dúvida, o “Será que posso mesmo”? Será que consigo de verdade? Será que mereço conseguir?”.

Faço, corro, procuro, pergunto, mudo, faço igual, faço diferente, mas não chego nunca, não alcanço, nada acontece, e aí, aí já era, vem aquele desânimo monstruoso que urra e vomita sem dó: “Sabe aquilo de ser arquiteto da sua própria vida, construir pedacinho por pedacinho com tijolos de sonhos, grudados, uns aos outros, com muita vontade? Esqueçaaaa! Não importa o que faça, não vai acontecer nada, não vai acontecer que você quer.”

No olho de um desses furacões, que a vida nos faz o favor de nos abandonar, nasceu estas questões: Será que é melhor não ter sonhos? Será que o melhor é viver assim, uma vida fria, vazia e distante de emoção? Pelo menos assim nada vai me deixar triste... Mas será que algo me deixará feliz? Será que viver assim é viver ou é apenas não morrer? Não soube responder a minha mente, mas, em algum momento, em meio a um mar de interrogações, uma delas movimentou o meu corpo, me fez sentir um arrepio frio e quente pela espinha... Me veio, o problema não é sonhar, claro que não, o sonho é motivador, é ele quem me tira da cama e me conduz pra viver mais um dia, a questão é criar expectativas e perceber que elas não foram supridas, o problema não está em nada acontecer, mas em não acontecer nada do que eu esperava, mesmo porque, se nada aconteceu, algo muito importante nasceu: a FRUSTRAÇÃO.

Neste instante, uma taquicardia furiosa tomou conta do meu ser, parecia que meu coração batia fora de mim, tive a impressão que o mundo poderia ouvi-lo pulsar, neste momento me dei conta de que todo o problema é como eu lido com as minhas frustrações.

Me dei conta que sonhar e ter expectativas é maravilhoso, desde que não me limite, desde que não me congele aguardando o desfecho idealizado. Esse era o cerne da questão, me abrir para valorar o resultado que chegar e não apenas lamentar o que não veio. Às vezes, o que chega é muito melhor do que esperávamos, mas, via de regra, estamos tão focados em conseguir exatamente o que nossas mentes formataram como ideal, que nada, nada poderá acontecer em seu lugar... Eu tinha uma visão tão limitada do fazer e acontecer, que não me abria para aproveitar as oportunidades que chegavam, afinal, estava sempre pronta para chorar minha vitimização e aí sim, com um pouco de sorte, alguma migalha de carinho e atenção sobrava para acalentar a criança birrenta de trinta e poucos anos.

Paula Maria

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